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OPINIÃO: Empatia

Os últimos dias revelaram uma certa tensão na cidade. Situações de violência contra mulheres, lgbtfobia e racismo foram notícias frequentes. Os gestos de preconceito racial demonstrados recentemente em nossas universidades, locais que, até então, imaginávamos livres de tal proeza, vieram à tona. Atos de repúdio foram imediatamente providenciados. Apesar de sabermos que sempre houve racismo em nosso país, mesmo que escamoteado, não imaginávamos que eles seriam expostos tão escancaradamente. O quadro e o giz, empregados para algumas dessas manifestações desprezíveis, constituem materiais didáticos dos mais antigos utilizados por discentes e docentes. Para quem pensa em aplicá-lo para mensagens nada amorosas, por favor, lembre do apagador. Tente pensar que, aguardando você sair da sala de aula, geralmente há uma mulher, que poderá ser negra. Como você se perceberia limpando esse quadro? O que passaria na sua cabeça? Um pouco de empatia não faria mal a ninguém.

A capacidade psicológica para imaginar o que sentiria uma outra pessoa, caso estivesse na mesma situação, tentando compreender as emoções do próximo, seria bem-vinda. Quando um ser humano consegue sentir a dor alheia ao se colocar no seu lugar, pode despertar a vontade de ser mais solidário e cordial. Se você tem dificuldade para empatia, seria bom lembrar que a prática do racismo é considerada crime inafiançável, com pena de até 3 anos de prisão. Ao se colocar no lugar do outro, talvez você, se percebesse, que os negros nesse país, apesar de serem maioria, não alcançam as universidades com a mesma facilidade. Reflita: quantos professores negros você tem ou teve? Quantos colegas? Em caso positivo, eles tinham a mesma condição que você para adquirir os materiais necessários para atingirem resultados excelentes? Dados recentes do IBGE apontam que o país possuía 11,8 milhões de analfabetos, sendo que a taxa entre pessoas negras é maior que o dobro das pessoas brancas. A pesquisa evidenciou, portanto, que brancos têm mais acesso à educação no país do que os negros.

Por isso, encontramos mais essa população trabalhando na portaria, na limpeza e outros setores das nossas faculdades. Acredito que podemos discutir ideias opostas, mas concordar com manifestações de racismo, homofobia e qualquer tipo de violência, está totalmente fora de negociação. Comemoramos agora os 30 anos da nossa Constituição Cidadã. Que não esqueçamos das palavras proferidas pelo Ulysses Guimarães naquele dia 5 de outubro de 1988: "Declaro promulgada! O documento da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social do Brasil. Que Deus nos ajude para que isso se cumpra!" Para compensar, tivemos, no último domingo, uma linda mostra colorida de solidariedade na Gare, durante a 17ª Parada Livre da Região Centro. Sinto uma ponta de esperança quando vejo subir ao palco um grupo de homens trans, buscando visibilidade ao dizerem "estamos aqui, existimos" e um deles, muito emocionado, lê a poesia de Kauê, membro do HTSMA, a qual transcrevo trechos: "só queremos respeito, porque também somos gente. Não somos exigentes, às vezes, só carentes.

Carentes de amor, de carinho. Queremos seguir nosso caminho, mas, às vezes, somos interrompidos, deixando lembranças e sonhos para trás. Não fizemos mal a ninguém, mas vocês nos fazem reféns. Só queremos felicidade. Ao invés de vermos vocês com armas, queremos sorrisos. Queremos vocês vestidos de paz. Queremos poder andar sozinhos, sem medo". Tenha mais empatia. Provavelmente, Deus nos escute e tenhamos mais paz. Inclusive, no próximo domingo, teremos a Romaria da Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. Peçamos ajuda da nossa padroeira para termos mais harmonia e fraternidade com o povo santa-mariense. Amém.

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